terça-feira, outubro 25, 2011

¿Vamos a la playa?



Uma das coisas que eu mais sentia falta em Paris era a praia. Pegar uma cor é ótimo e não existe nada melhor pra curar ressaca, fadigas e inhacas de maneira geral do que dar um mergulho na água gelada. Só cuidado com o bigode de matte com limonada no sol #conselhodeamiga.

O problema da praia, na verdade, é o tédio. Quando eu era pequena, não rolava isso mas acho que estou muito velha pra ficar nadando de pernas cruzadas achando que eu sou a Pequena Sereia...
O tédio praiano é então um abacaxi sério e como eu tive muitas experiências, refleti muito sobre como erradicá-lo.

Você pode sempre jogar frescobol com os amigos. Mas pra isso é preciso considerar que 1. são 9hs da manhã de um sábado; 2. que algum amigo atendeu o celular; 3. e topou ir à praia com você.
Muito rapidamente você se dá conta que não joga frescobol assim tão bem e que a maior parte do tempo você fica correndo atrás da bolinha. Ou se desculpando por ter rebatido de novo naquele surfista gatinho que tá dando um break nos cut-backs. Isso porque já é a 26a vez que você tem que ajeitar o biquíni.

O surfe pode ser uma boa opção, só que, pessoalmente, as minhas ondas são outras.
Continuando na vibe esportiva, você ainda pode andar/correr na praia.
Yeah right.
Já acordei Às 9h horas da manhã num sábado, tá bom, né?

Os fatos são: sim, são 9 horas da manhã de sábado e você é o único acordado. A ocupação mais adaptada é então ler. Livro ou jornal. Como preferir.
Você chega na praia e prepara tudo:
Travesseiro de areira - check
Canga bem estendida - check
Roupa devidamente dobrada sobre a bolsa - check
Havaianas pretas debaixo da canga pra não queimar o pé depois - check
Protetor - check

Agora é só ler um pouco pra esquentar bem e dar aquele tchibum. Você deita de barriga pra cima, pega o livro, estica os braços pra tentar, ao mesmo tempo, tampar o sol que tá queimando a sua retina e conseguir ler. Página par, página ímpar - como se vira as folhas pras próximas duas?!
Segura com uma mão só, o peso do resto do livro fica difícil de segurar com uma mão só esticada, o sol volta com tudo a queimar a sua retina enquanto você faz a manobra toda e consegue finalmente passar pras próximas páginas. Os cotovelos doem, os braços formigam.
Deixa o livro de lado, coloca os óculos escuros. Putz, não marquei a página.
Decide ficar sentado, bem melhor assim. Até que as costas começam a doer e agora é o arrière que fica dormente. Time out, mergulho.

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh frescor!

Com a circulação sanguínea ativada a todo vapor, hora de retomar a leitura - melhor deitar de bruços. Ritmo de leitura bom, brisa de leve, que delícia estar na praia. Um pombo passa desconfortavelmente perto de você, você tenta espantá-lo com o livro e por causa do peso do tijolo e porque você (quer dizer, pelo menos eu) é desastrada, acaba pagando peitinho. Viva Marilac!
Com toda essa afobação, você se dá conta de que tem exatos 3 kg de areia na sua canga, alguns grãos no olho esquerdo e um (in)esperando "crunch" na sua boca.
Nessas horas você pensa em todos as pesquisas de concetração de coliformes fecais da praia, olha pro lado, vê o canal e, depois de um longo suspiro decide não deixar isso te abater - estou criando anti-corpos. wuhul #not.

Se você optou pelo jornal, pois bem... Sem nem querer entrar no mérito das matérias que têm sido publicadas ultimamente, a situação não é menos trágica: aquela brisa leve que você tanto gosta enquanto lê o livro, vira um verdadeiro sudoeste e o jornal, independentemente da sua vontade, acaba se auto-transformando num origami. Você o amassa em frustração e quando vai pegar um outro caderno pra ler, se dá conta que ele já chegou no posto 11.

Depois de formigamentos desagradáveis, jornal voadores, pombo, areia, cocô na sua boca e uma enorme vontade de xingar como se você tivesse na final do campeonato brasileiro (não que entenda muito disso, mas lembro bem dos palavrões; uma atrocidade, really), você decide suspirar fundo - afinal tem uma família de com três crianças de 6, 8 9 anos ali do lado), você, ser tenaz, decide: bola pra frente.
Sacode a canga, refaz o travesseiro, estica a canga, larga o livro em cima dela, vai dar mais um mergulho, toma um caldo enquanto sai do mar, volta pro mar pra tirar a areia que entrou no biquíni, senta na canga, pede um biscoito globo e abre a página - sim, página 257, página certa porque você lembrou de marcar quand même! e começa a ler: "La maîtresse nous a dit de prendre nos cahiers, parce qu'elle allait nous faire une dictée. Alors, Geoffroy, tout fier, il a pris son stylo, et là, on a été tous bien etonnés."

E a pergunta que não quer calar: que porra de Geoffroy é esse????

2 comentários:

  1. Quando a gente quer se livre de uma pressao insuportavel o haxixe é necessario"
    F. NIETZSCHE

    ResponderExcluir
  2. Olá, Clara.
    Penso ser você que deu um trabalhão numa tarde de domingo, entre o Mercado Popular do Recife e as ladeiras de Olinda... rsss...
    Blog: http://robertocarloscosta.wordpress.com

    ResponderExcluir