quinta-feira, novembro 29, 2012

Strangers in the night


Acho que vocês todos sabem que eu tenho uma relação muito especial e muito linda com a minha vó Lili. Além dela ser a pessoa mais linda do mundo, ela manda em mim. E brigou comigo algumas vezes porque eu nunca falo bem de nada [aqui no blog], disse que eu só sei reclamar e que eu deveria, pelo menos uma vez, falar bem de alguma coisa. Pois bem, eu acato e dedico à ela esse post.

*                    *                    *

Existe sensação melhor do que aquele começo de paquera? Ahhhh, a pausa para escanear a festa inteira e, por causa de aura, ou de cheiro, santo, careta, olhos, gargalhada, careca, e até da mistura de tudo junto, ficar completamente abobalhado por alguém!
Calma, Clara. Respira. Walk away e #vaipegarumacerveja

Você abre a gelada, olha mais, talvez de rabo de olho, talvez não exatamente para ele mas atrás dele, história de disfarçar um pouco. E ele ali, *sparkling*... Você decide então atravessar a sala, só pra dar oi oi oi. E do oi, vem a consciência de que você não sabe nada daquela pessoa; e da consciência, surge a vontade de saber tudo. Enquanto isso, os pensamentos mais soltos passam pela sua cabeça - "ai meu deus, será que eu tô com batom no dente??" ou "e se eu tiver, como eu tiro sem ele perceber??".

Conversa vai, conversa vem, cria-se uma cumplicidade. Baseada em nada, na verdade, só na vontade de querer passar mais tempo juntos:

- Você mora no Jardim Botânico?!
- Nossa, eu adoro planta!
- Eu também!

Ahhh, o encontro, o encanto, o encaixe!

- Vou pegar uma cerveja, quer?
- Por favor.

E agora? Será que ele volta? Será que eu fico aqui esperando, que nem a namoradeira do escritório? Melhor aproveitar e dar aquela limpada nos dentes, just in case o batom borrou.

Pronto, ele pegou as cervejas. Vamos lá, Clara. Você é #toocoolforschool. Ah é?!, se eu sou por que que eu comecei a suar horrores? E por que diabos eu tô falando com você, ele tá vindo, lembra onde estava o papo. Concentra. Não, não com essa cara de constipada. Sorri, monga. Não tanto, senão eu não consigo ver mais nada e você fica com cara de chinesa. Nada contra os chineses, claro.

- Pronto, voltei.
- Merci ;)
- Tchin tchin

Silêncio...

- Sabia que tchin tchin em japonês quer dizer xoxota?
- Ãhn?!
- Ah não, quer dizer piru. Manco é xoxota.
- Ah.

...silêncio

*swet drops keep falling in the floor*

Sim porque existem essas entraves, que acontecem e são mais naturais do que qualquer diálogo de He's just not that in to you mas as coisas sempre acham um jeito de tomar o seu curso natural e o papo volta a fluir. Você controla a respiração, o suor diminui e o riso rola solto.

- Mas então, você faz o que da vida?
- Sou pintor.
- Que legal, eu trabalho numa casa de leilão.

E é quando se tem uma coincidência maior, uma das importantes e curiosas, dessas do tipo #ouniversoconspira, que elas atacam. Falo das borboletas, claro. Voltam inclusive para um segundo round quando vocês completam as frases um do outro também. [Ou isso ou você comeu algum canapé estragado]. Um filmezinho passa na sua cabeça, vocês casados, oito anos depois, três moleques correndo pelo jardim...

E quando a intimidade de quatro horas de conversa se traduz por uma proximidade de mãos, bocas e cigarros divididos, quando na sua cabeça a Etta James canta em 5.1 At laaaaaast (ou Beije a moça, trilha sonora da Pequena Sereia; você escolhe).. O seu amigo gay chega para ser inconvenientemente apresentado. Fulano, Beltrano, Beltrano, Fulano. Eles engrenam num papo. Você sai para pegar uma última cerveja. Só para encontrar os dois, dez minutos depois, sorrindo sem graça, esperando você pra dar tchau antes de irem embora juntos. Mains dans les mains.

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