sexta-feira, janeiro 06, 2017

Será que tudo o que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda?


Ano novo, vida nova? Neste começo de 2017 eu resolvi colocar em prática uma resolução antiga: voltar pra academia. É que sabe como é, né? Estudos dizem que não funciona adotar todo um novo estilo de vida ao mesmo tempo, que as mudanças têm de ser graduais e que começar dietas nas segundas-feiras nunca dá muito certo. 2016 foi o ano da teoria da malhação. Li todas essas pesquisas aí [mentira, li notícias que mencionavam essas pesquisas] e, com isso, fui procrastinando as escolhas saudáveis da vida, hedonista que sou.

Enfim, o fato é que ontem, num embalo de quinta pós-trabalho, resolvi me matricular na academia. Depois de tudo devidamente protocolado e pago me perguntaram se eu já ia começar a malhar naquela hora – tomei um susto. Não precisa fazer a avaliação física (marcada devidamente para o dia 10/01) antes de começar a malhar? As duas moças, depois de trocarem um olhar jocoso, responderam em uníssono: “Magina!! Pode começar agora mesmo!”. Sem nenhum preparo psicológico para aquilo disse que começaria amanhã, hoje tava difícil.

Pois bem.

Academia já começa chato: primeiro há de se achar o melhor horário para malhar. Me conhecendo, resolvi que tinha que ser na hora do almoço ou nunca mais. Já tentei acordar mais cedo para nadar, por exemplo. Nadei uma única vez. Já tentei freqüentar aulas de ioga à noite e sempre preferi o conforto do bar lar. Depois de escolher o horário, você precisa pensar em todas as coisas que você tem que levar para a academia: malhar envolve suor, que envolve banho, que envolve toda a parafernalha de  uma nécessaire de viagem – xampú, sabonete, pós-xampú, pente, desodorante, tonificante, hidratante e perfume (sim, eu gosto de cuidar da minha pele). Como se não bastasse isso, ainda é preciso a roupa para malhar, a meia para malhar e o pênis, digo tênis, perdão, para malhar. E lembrar de descer na academia meia-hora antes da aula para reservar a bicicleta.

Check, check and check.

Até lembrar que esqueci a toalha.

Chegou o momento tão esperado. Pergunto qual é a sala do spinning. A moça me fala que a aula de spinning é só as 13h e que é lá em cima. Eu digo que não, que coloquei o meu nome na aula das 12h30, tenho uma bicicleta reservada, moça. “Ahhhhhhhhhh, é a aula de bike, nessa sala bem aqui em frente”, sempre com um meio sorriso sabe-nada-inocente na cara. Dou de ombros e entro na sala (a diferença entre spinning e aula de bike continua um grande mistério). Tímida, me apresento pra professora:
 – Oi, eu sou a Clara e eu nunca fiz uma aula de.. disso na minha vida.
- Ok, pode sentar na sua bicicleta, vamos começar já já.

A sala tem umas 15 bicicletas e as paredes são cobertas por espelhos, abrindo espaço apenas para um vidro que dá pra entrada da academia. Primeira coisa que me vem na cabeça? Que esses espelhos seriam mais úteis e divertidos em motéis. Depois, qual foi a do vidro? Me senti num aquário e sem Fagner nenhum para me fazer serenata. Pessoas ajustam suas bicicletas. Metida que sou, imito. Nada surte efeito, até porque eu não sei qual seria o efeito que era pra surtir anyway. Peço ajuda. Bike ajustada, a professora me passa as 3 posições e vai começar a aula. Breu. A música começa aos berros e luzes de todas as cores invadem o teto, os colegas, os espelhos. Subo logo na bicicleta com a esperança que ela me leve para longe daquela situação bizarra onde malhação, motel e boate viram um só.

Com o fôlego de fumante que tenho, rapidamente percebo o segundo erro, este mais fatal do que o da toalha: não trouxe água. #CaraDoEsqueceramDeMim. “E agora muda de moderado pra forte e vai pra posição 3! O torço não mexeeeee, manda essa bunda lá pra trás, lá pra trás”. Corei.

“Agora volta pra primeira e passeia...” – minha amiga, na boa, tu acha que isso é passeio? Fácil ficar gritando no microfone enquanto você caminha de maneira nonchalante na sala. Desgraçada, quero ver essa verborragia enquanto tu tá na posição 2, alternando perna. O nariz escorre, a legging cai, o cofrinho quase aparece. A morte, o último descanso. Tento, em vão, pedalar até ela.

“A aula só dura 30 minutos, então a gente tem que ir com força total [a gente quem, cara pálida?]! Sobe e fica, vamos alternar 2 e 3 durante 45 segundos”. CLARAMENTE A PROFESSORA NÃO SABE CONTAR. “Força, força, forçaaaaa”, só nessa já devem ter sido uns 10 segundos que não entraram na matemática nunca. ELA MENTIU. Diversas vezes. Eu queria protestar, mandar ela tomar no c* mas o fato é que eu já tinha deixado um pulmão na 34ª vez da posição 2 com força moderada, e abrir a boca só me deixava com mais sede. Quase pedi a água da colega mas achei que seria uma mancada nas regras de bon voisinage.


A aula acaba depois de um breve alongamento. Todos saem agradecendo à professora, eu grunho. Tremendo da cabeça aos pés, pego uma toalha na recepção e subo as escadas para o vestiário que nem vara verde. Seria um derrame, essa sensação? Bebedouro. Água, água, água. E mais um pouco de água. Separo todos os negócios-de-coisa de toalete e entro na ducha fria. Meu deus do céu, que livramento esse banho!!! Acostumei com chuveiro elétrico, então quando entro num normal, com a água toda cheia de pressão... é amor à primeira vista! Geralmente não demoro no banho, me sinto culpada por gastar a água do planeta, mas hoje.... ah, hoje, meu amigo, eu passei mais tempo no banho frio do que na aula. Segunda-feira volto, sobretudo pelo chuveiro.

Um comentário:

  1. Clara Mellac, me manda essa maravilha de texto por e-mail,com letra preta em fundo branco??? PLEASE!!!!!!!

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