sexta-feira, agosto 09, 2013

Volta por cima


Vocês já repararam como a maçã sempre teve um papel importante na História? Foi por causa dela que Adão e Eva foram gongados do Éden. E a Branca de Neve?! Quase perde a vida numa dessas. Hoje ícone de um dos maiores impérios tecnológicos, a maçã, tal qual o Bombril, tem 1001 utilidades. Mas a sua principal função foi ter caído em cima da cabeça de um talvez preguiçoso mas com certeza sonhador Isaac, revelando assim a lei da gravidade.
Perguntando para as meninas qual era o aspecto mais enervante dela, ouvi quase sempre a mesma resposta: a ação da gravidade no peso. Isso se traduz em três palavras que assustam qualquer moça: teste do lápis. Algumas passam com 10 (sorry, meninas, mas aqui eu tiro onda), outras por um triz. E outras ainda repetem nas suas duas etapas - ESQ e DIR. A indústria cosmética, por exemplo, é completamente baseada nesse medo. Cremes que levantam, ácidos que empinam, massagens que modelam – tudo é friamente calculado para desafiar a equação GP².

Se desde Ícaro o homem sonha em voar é porque a lei da gravidade pode ser uma chateação. E eu, que não sou (nem de perto) a mais graciosa das criaturas, sofro - ela pega mesmo no meu pé.


Um tropeço é o triúnfo do homem sobre a lei da gravidade. Para meninas de 10 anos, representa todas as outras meninas que querem roubar o seu namorado. Quanto tempo nós não perdemos batendo o pé no chão dizendo: “não dou, não dou, não dou. É meu, é meu, é meu”? E todo mundo já se reergueu com um sorriso depois de ter sambado feito pai Francisco para evitar uma queda.
Mas quando ela é inevitável, sai de baixo. Cair é muito chato. Eu uma vez cai 12 vezes voltando para casa. Não porque tinha bebido demais mas porque Paris estava coberta de neve e a tupiniquim aqui não lida bem com a água nesse estado sólido escroto. O pior é que eu caía sempre do mesmo jeito, na mesma banda da bunda. Fiquei com um roxo meio amarelo, meio verde (olha a ironia) durante dois meses.
Outra vez, eu, jovem, gata carioca, fui flertar com um amigo via body language. Pensem numa péssima idéia: uma árvore, uma bica a 40 cm da árvore, e uma lata de lixo repletas de latinhas de cerveja vazias. Ele me viu. Eu sorri enquanto ele atravessava o jardim pra me dar oi. Gaiata, fui dar uma de desenvolta e me apoiar na árvore – um pé cruzado por cima do outro, fui me inclinando, certa de que meu cotovelo iria ser aparado pelo tronco e estaria eu ali, casual, sorrindo, louca pra dar e receber um cheiro do moreno. Só que não. Eu tava tão distraída olhando pro rapaz que calculei mal o ângulo, o cotovelo paralelo à àrvore. Resultado: fui de MADEEEEIIIRA no chão. De ladinho. E ainda levei a lata de lixo comigo – um strike completo e barulhento. Tão barulhento que todas as pessoas que tavam na pista de dança (bem em frente à situação) pararam pra entender o que tinha acontecido. É claro que o mocinho acompanhou a cena toda e, tudo de bom que é, saiu correndo, chutando lata (literalmente), pra me socorrer. Presa entre o tronco e a bica, eu só ria. E sangrava do cotovelo.


A lei da gravidade me irrita também quando faz os objetos caírem no chão. Quem nunca teve um iPhone com tela quebrada não viveu. Quem nunca pisou num micro caquinho de um copo quebrado seis meses antes (e que foi mi-nu-ci-o-sa-men-te recolhido) não sabe o que é dor. Quem nunca deixou a peteca cair não sabe o que é frustração. OK -- todos esses sentimentos são importantes pois são das experiências que vêm as melhores histórias, são dos traumas que nos reinventamos e da insatisfação que descobrimos novos caminhos.
Nesses dias de sol otimistas, talvez num domingo diferente (a começar por um estranho e leve bom humor matinal), você é atacado de novo: sim, pingou pasta de dente na sua blusa preta e você tem que trocar de roupa. Ou numa quarta-feira entusiasmada, o molho de tomate cai na sua calça de seda ou quem sabe até, num sábado preguiçoso, o café quente escorre na sua camisola preferida. O que Jackson Pollock chama de dripping eu chamo de lambança. E no meu caso, todas essas alternativas acontecem numa terça-feira atarefada no escritório e já não dá mais para trocar de roupa.

Pois é, não tá fácil para ninguém, colega. E se a lei da gravidade é tão antiga quanto o mundo, ultimamente ela arranjou uma péssima companhia: com a Lady Murphy, elas causam.

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