Banho de espuma

Depois de um dia um tanto quanto estressante, resolvi relaxar. Não tendo uma cobertura na Espanha ou sequer um mamilo tão curioso que saia do biquíni, optei por um belo banho de banheira, cheio de espuma e velas e tudo mais que a gente normalmente vê nas propagandas da Lux.

Mas a verdade é que o banho de banheira real nada tem a ver com aquele que vemos nos filmes. A primeira missão impossível é acertar a temperatura da água. Segundo as minhas experiências, você tem duas e somente duas opções: "temperar"com a mão a água, o que sempre resulta numa água muito quente pro resto do corpo; ou entrar na banheira com ela ainda enchendo e aí até a água subir prum nível razoável, você já tá com tanto frio, que qualquer temperatura é boa.

Eu gosto de me considerar um ser prático, e tenho como obsessão otimizar o meu tempo o máximo possível - chega a ser um TOC: penso sempre nas melhores estratégias para atravessar sinais, achar atalhos e a ordenar as coisas na geladeira, no chuveiro, etc.
Sendo assim, eu escolho a primeira opção e enquanto a banheira enche, eu preparo uma playlist Bath & Beyond, aperto um, pego a minha toalha, acendo umas velinhas, coloco a espuma, faço xixi, me sirvo um bom copo de vinho, e trago a parafernalha toda comigo para a casa de banho. Limpo meu pé enquanto dou uma última olhada pra ver se tá tudo ali e entro, at last, na banheira.

Arrepio de tão quente que tá água. Pele vermelha. 3 minutos pra se acostumar e ahhhhhhhhhhhhhh, #delicia !

Quase igual aquele filme, né? Pois bem, é nesse momento cinematográfico que começa a tocar aquela música que você colocou sem querer na playlist que não tem nada ver com nada e aí você se dá conta: o iPod tá muito longe pra você mudar. Ao mesmo tempo você se dá conta de que a sua mão tá molhada, que a sua toalha ficou naquele borderline de se-eu-for-pegar-posso-escorregar-e-quebrar-uma-perna e que você quer acender aquele cigarro (obs da autora: não-fumantes podem achar estranho o conceito do cigarro no banheiro, fumantes que viram os Excêntricos Tenenbaums entendem o fato de querer repetir o clichê. Margot, I love you). Só que o cinzeiro ficou na cozinha. A garrafa de vinho também. #putz.

Nesses momentos onde nada dá certo, enquanto você se contorcia pra pegar a toalha, metade da água foi pro chão e uma das velinhas já apagou. Sim, naquela propaganda a mulher está exibindo as pernas enquanto Pink Martini é o pano de fundo com Sympathique. E você ali, tentando manter uma mão pro alto, enquanto ela seca, esticando a perna pra dar uma de Kill Bill e pegar a toalha com os dedos do pé.  *Sigh*.

Quando Learn to fly finalmente acaba, você, o seu vinho, o seu cigarro acabam por encontrar a perfeita harmonia - quando toda espuma acabou.
Em Uma linda mulher esse seria o momento que o Richard Gere entraria de roupa na banheira com a Julia Roberts. Pois bem, crianças, não tentem fazer isso em casa! Não há nada mais desconfortável do que duas pessoas numa banheira: até a segunda pessoa entrar, a outra metade da água foi pro espaço, até a pessoa e você se ajeitarem dentro da banheira, você já se transformou num origami gigante (viva a ioga!) enquanto partes íntimas são inevitavelmente esmagadas, apertadas, e prensadas contra o cano da água quente.
Resultado: vocês estão numa banheira sem água, em posições bizarras (não, nada do que você possa ter visto no Kama Sutra), com futuros roxos em todos os cantos e algumas queimaduras. Not very nice.

Mas, se você decide não chamar outra pessoa, durante aquele ínfimo momento de harmonia entre todos os elementos, você relaxa. Até que o tédio chega, normalmente acompanhado do calor da água escaldante. É uma coisa estranha - porém possível - suar dentro de uma banheira. Go figure. Normalmente é aí que eu começo a viajar sobre os dedos de velha, sabe?

However, a música tá boa e você continua dentro da água, against all odds. E, quando você finalmente decide sair, lembra que agora você tem que lavar o cabelo.